Ontem não dei as notícias da pequena Carol... aqui vai então:
- já não tem tanto ranhito, mas tem a pele do nariz muito seca, e ontem à noite tive que passar um bocadinho de pomada (vitamina A) no narizinho. Hoje já estava melhor;
- tem uma tosse profunda que chega mesmo a engasgar-se, por sorte não vomita.
Tirando isto ela até tem comido bem, mas o problema da obstipação persiste... Dou-lhe tudo o que pode "soltar" os intestinos mas não tem dado grandes resultados... Quero passar na Coop hoje a ver se compro farelos para lhe misturar nos iogurtes, segundo a minha amiga Cátia aquilo é "tiro-e-queda".
Comprei um xarope, na ervanária, de maçã reineta e kiwi, que lhe dou desde os 3 meses, claro que não continuamente por que depois ela habitua-se, mas dou-lhe sempre que ela tem dificuldades em regular o trânsito intestinal.
Obstipação
A obstipação, mais vulgarmente chamada prisão de ventre, é uma condição muito frequente nas crianças, sendo responsável por cerca de 3% a 5% das consultas ao pediatra e 35% das consultas de gastrenterologia.
A prisão de ventre desenvolve-se lentamente quando a criança começa a associar a dor ao acto de defecar. Assim sendo, a criança, ao ter cólicas, evita ir à casa de banho para não ter mais dores. Ao reter as fezes, o recto começa a distender e a perder alguma sensibilidade. Com o tempo, o recto vai adquirindo uma capacidade maior de acomodar fezes sem dar sensação nem urgência de evacuar. Quando finalmente a criança vai à casa de banho, as fezes são duras e volumosas e a dor ao defecar é cada vez maior, criando assim um ciclo vicioso em que há agravamento progressivo. Ao fim de alguns anos pode haver uma distensão do recto e uma perda de sensibilidade tão grande que é possível surgir a encoprese, que é a incontinência do esfíncter, ou seja, a perda de fezes nas cuecas.
Como deixar de ter dores ao defecar?
Quando a obstipação já está instituída, é necessário um tratamento mais intensivo. No início é necessário limpar todo o cólon e retirar as fezes duras que estão acumuladas. Para isso deve fazer clisteres durante alguns dias até à limpeza total.
Posteriormente deve-se evitar que volte a reacumular fezes, o que significa tomar xaropes que tornem as fezes mais moles e obrigar a criança a ir à casa de banho todos os dias. Preferencialmente, a ida à casa de banho deve ser após o pequeno-almoço e após o jantar porque assim aproveita-se o facto de haver maior movimento do intestino após a refeição. É necessário ter em conta que, muito provavelmente, será impossível convencer a criança a ir à casa de banho na escola, por isso não vale a pena forçá-la.
A dieta também é um ponto importante. A alimentação deve ser rica em fibras (vegetais), açúcares não absorvíveis (frutas) e muitos líquidos.
Os pais devem ter consciência que o tratamento é longo, podendo mesmo prolongar-se durante meses. Só quando a criança tiver adquirido hábitos regulares de ir à casa de banho é que se poderá começar a pensar em diminuir gradualmente as doses de medicação. É também importante ter em mente que a qualquer momento, principalmente quando há alteração na rotina diária (como nas férias ou com a entrada na escola), o problema poderá surgir de novo e o tratamento terá de ser reiniciado.
Em suma, a obstipação é um problema muito frequente e grave uma vez que é responsável pela perda de qualidade de vida. A criança sente-se desconfortável, tem dores e se tiver encoprese terá mesmo problemas de adaptação social.
Se o seu filho for obstipado, vá ao seu médico e cumpra escrupulosamente o tratamento instituído. Não tenha receio de ter de fazer medicação durante muitos meses - há a noção errada de que os laxantes poderão causar dependência, mas é uma ideia falsa. Não há qualquer problema em tratamentos arrastados.
Confie no seu médico e ajude o seu filho.
Mafalda Paiva e Henedina Antunes
Serviço de Pediatria do Hospital de São Marcos - Braga